sábado, julho 14

Gerrit Komrij (1944-2012)

Assisti hoje a uma cerimónia fúnebre em que se disseram sobre o defunto, carinhosas e sentidas palavras. Não das superficiais, das do preceito que aos mortos só se devem elogios, mas palavras sinceras de amizade e admiração, comemorando este um momento festivo, citando outro um dito memorável, um poema.
Tocou-se, coisa rara, bela música medieval. Incomum foi também ouvir os risos provocados pela lembrança de uma cena hílare, e que ali se lhe prestasse homenagem com longo aplauso e ovação de pé.
Lá onde está deve ter apreciado, pois era rebelde e iconoclasta, poeta de raro talento, crítico acerbo de gregos e troianos, justamente temido pelo veneno das setas que disparava e raro falhavam o alvo.
Durante um pouco mais de quatro anos foi sincera e íntima a nossa amizade. Depois cortei eu o laço. Dias atrás, recebi, chocado, a nova da sua morte. E hoje, na despedida, com pena recordei, não apenas a sua, mas as amizades que ao longo da vida se perdem e deixam um vazio.