domingo, novembro 8

Teatro?


Teatro? Cena da vida real?

Ambiente elegante. Três casais à mesa. Gente entre os trinta e os quarenta que de vez em quando se encontra, mais para tratar de interesses do que por verdadeira amizade ou simpatia. Jantou-se com agrado, bebeu-se além do aconselhável, veio o café e, pensando no que mais tarde se tratará, discute-se agora com fingida alegria sobre conhaques e pintura, sobre livros, o noticiário que distraidamente viram na televisão. Alguém sugere que a luz é demasiada e apagam-se umas lâmpadas.

Elegante, bonita, com a agilidade da juventude, a dona de casa acena a um dos homens:

- Vem comigo. Quero mostrar-te uma coisa.

O conviva, o álcool a embaraçar-lhe os movimentos, ergue-se e toma-lhe o braço:

- Mas não vamos para a cama, pois não?

Disparou aquilo sem maldade nem segundas intenções, sorri do próprio gracejo, o gesto do marido fá-lo deter-se:

- Não te aconselhava. Se fosses ias ter uma má surpresa, porque a Didi na cama...

O silêncio pesa, os olhos seguem a mulher que largou o braço do convidado. Parece que vai dirigir-se ao marido, dá um passo detém-se, sorri, a voz permanece serena:

- Mas, querido, que mulher será capaz de satisfazer um panasca?