sexta-feira, outubro 10

"Partes Húmidas"

(Charlotte Roche)

Se é sensível em demasia, tem princípios rígidos, segue uma fé, é virtuoso/a, casto/a, melhor é parar aqui com a leitura. Se continua, fá-lo por sua conta e risco. Não que eu vá insultar deuses, ofender seja quem for, mas vou mexer em porcaria e acho que a precaução se impõe.


Charlotte Roche (1978), alemã, escreveu um romance, Feuchtgebiete, cujo título se pode traduzir como “Partes Húmidas.” Nuns poucos meses venderam-se na Alemanha para cima de setecentos mil exemplares.

Se você o ler mostra estômago a toda a prova. Eu parei na página quarenta, com o sentimento de que, mesmo que ainda tenha muitos anos de vida, a dose de asco vai sobrar. Há ali fezes em excesso e em vários estados, mênstruo, esperma fresca e seca por todos os lados, hemorróides do tamanho de couves-flores, arrombamentos, hemorragias, retretes de sujidade oriental que a heroína, antes de se sentar nelas conscienciosamente "limpa", usando os grandes lábios como esfregão, etc...

Isto tudo e mais, cansativamente repetido, refogado, fedendo, peidando, para estigmatizar a idolatria da beleza feminina e o excesso de higiene de que a sociedade ocidental sofre, apanhada como está nas garras do despudorado capitalismo.


Eu tinha posto o livro de lado e feito o possível por esquecer, mas logo o meu favorito semanário holandês, HP/De Tijd (03.10.08), promove uma discussão sobre o assunto. Tomam parte uma catedrática cinquentona, uma jornalista (29) uma escritora (24).

Desta última recordo que fez furor anos atrás, com crónicas em que nos punha ao corrente dos seus desejos sexuais, entre outros o de ser enrabada pelo avô. No moderno diz-se fazer sexo anal, mas dá no mesmo. Agora ficámos também a saber que, antes e depois de sexo,a menina mete a mão na coisa, cheira e prova. Introduzir lá bocados de carne com uma tenaz também parece corrente. E a catedrática esclarece que, depois de sexo tem por hábito não se lavar, de forma a que o cheiro do outro se mantenha. Além de que gosta de pôr, tirar e cheirar os tampões menstruais, embora não vá (ainda) tão longe como a heroína de Charlotte Roche que, usados, os troca pelos das amigas.

Chega? Também acho. Mas antes de terminar dou a palavra à catedrática: “O importante, neste romance, é ser nele posta em evidência a animalidade do corpo feminino. A animalidade como contrapeso à hiperestética. E para que a animalidade retome o lugar que lhe pertence, devemos aprender a apreciar o cio animal e as seivas do corpo.”

Muito se aprende!